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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Waldemar Lemos: fé e trabalho para vencer as críticas e um drama familiar


Dois dias antes de ser demitido pelo Náutico, técnico concedeu entrevista abrindo o coração, falando sobre as dificuldades no clube e na vida pessoal

Por Elton de Castro Recife
Waldemar Lemos, técnico do Náutico (Foto: Aldo Carneiro)Waldemar Lemos vem atravessando um drama
familiar (Foto: Aldo Carneiro)
Fé e trabalho: essas as 'armas' que o técnico Waldemar Lemos escolheu para superar o momento extremamente delicado que vem passando. No âmbito profissional, o treinador  acabou de perder o emprego no Náutico, após a derrota em casa para o Serra Talhada. Fora das quatro linhas, o grave problema de saúde de sua irmã, que luta contra um câncer, atormenta o treinador, que, mesmo morando no Recife, não mede esforços para ficar próximo da família, que reside no Rio de Janeiro.
Porém, nem mesmo a série de problemas consegue alterar a forma de agir do ex-comandante alvirrubro, que tenta fazer do trabalho incessante um aliado para vencer suas dificuldades. Sempre cordial, Waldemar Lemos recebeu a equipe do GLOBOESPORTE.COM/PE, na última sexta-feira, e falou sobre a fase do Náutico no Pernambucano, a confiança em seus jogadores, o drama familiar e ainda revelou a importância do clube em sua vida - tudo isso antes de ser demitido. Confira:
Waldemar, no começo da temporada, o Náutico foi apontado como um dos favoritos para conquistar o Campeonato Pernambucano. Porém, o clube está vivendo uma sequência bastante negativa. Na sua opinião, o que levou seu time a ter essa queda de rendimento?
- Olha, nada é fruto de uma situação única. Nós perdemos jogadores importantes por motivos de lesões e também alguns cartões. Quando você troca 10% de uma equipe é algo razoável, mas quando temos que mudar 50%, situação que ocorreu varias vezes com nosso time, aí complica muito. Sabemos que o futebol existem essas situações e que temos que superá-las, mas não podemos fechar os olhos para isso.
Você perdeu peças importantes e seu elenco é muito enxuto, o que fazer para superar essa fase, já que não existe a possibilidade para contratar ninguém?
- Eu confio muito no meu grupo e confio no trabalho que estamos realizando aqui. Todos os dias nós trabalhamos pra caramba e não medimos esforços para fazer o Náutico melhor. Tenho total certeza que sairemos dessa fase, pois batalhamos para isso.
Alguns dirigentes falaram que o Náutico deveria ter se reforçado mais quando ainda era tempo. Mas disseram que você não queria novas contratações. Se você perdeu peças importantes, porque não buscar novos nomes?
- Olha, não acho correto você contratar para falar que contratou. Acho que é importante buscar atletas que venham nos ajudar de alguma forma. Situações em que o grupo saia qualificado e que, os jogadores que venham, tenham o espírito do Náutico.
Nos últimos dias saíram varias notícias afirmando que seu cargo estava em risco e, até mesmo, um dirigente deu a entender isso. Você se sente pressionado no Náutico?
- Não me vejo dessa forma. Embora tenha ouvido algumas coisas. Quando você trabalha com qualidade e consciência, seus atletas sabem que o trabalho deve ser bem feito, a tranquilidade deve existir. Sei que tenho minhas responsabilidades e o que tenho que fazer. Então, procuro não dar ouvidos a situações que só servem para desestabilizar o ambiente.
Algumas pessoas chegaram a afirmar que você só não saiu do Náutico por causa da multa contratual. Isso procede?
- De forma alguma. Isso não existe. Não posso impor a minha presença em nenhum lugar e dinheiro não pode ser colocado como fator principal para nossas vidas.
Waldemar além do momento delicado no clube, você vive um grave problema familiar. Como está sendo para você enfrentar isso tudo?
- Tento encarar as coisas com muita fé em Deus e esperança. Acredito que somos capazes de melhorar nas adversidades e que a felicidade é um estado de espírito. Então, tento colocar a vida para frente. Tenho esse problema (irmão com câncer) na minha família, mas busco na minha fé e na minha família as forças para superar isso. Temos que seguir e, mesmo com tudo isso, eu acordo feliz. Pois temos a dádiva de estarmos vivos. Levando às 4h e já penso o que tenho que fazer, sempre tento ir em frente.
Em suas entrevistas você sempre fala da sua ligação com sua família. Como você faz para acompanhar sua irmã, já que ela mora no Rio de Janeiro?
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Toda semana eu fico duas noites sem dormir, porque viajo para o Rio após os trabalhos. Lá, eu posso ficar perto da minha família. Aí, volto durante a madrugada para não perder o treinamento do outro dia"
Waldemar
- Toda semana eu fico duas noites sem dormir, porque viajo para o Rio após os trabalhos. Lá, eu posso ficar perto da minha família. Aí, volto durante a madrugada para não perder o treinamento do outro dia. É bastante cansativo, mas tenho que fazer isso. Precisamos buscar muita força e esperança que temos em Deus e na nossa religião. É o que aprendi com a minha família. Fé e esperança, sempre.
Mesmo passando por graves problemas você tenta não transparecer isso. Por onde passa tenta cumprimentar todo mundo e não muda a forma de agir, como você consegue manter a serenidade?
- Acredito que temos que buscar ajudar as pessoas. Acredito que quando você tem a possibilidade de falar com alguém para ajudá-la não deve impedir que isso ocorra.
Má fase do time, problema na família, pressão de todo lado, você já pensou em pedir para se 'licenciar' do cargo?
- Não penso em me licenciar e nem quero. Tenho muita responsabilidade no Náutico. Eu gosto do Náutico, me sinto muito feliz aqui, mesmo não tendo minha esposa e meus netos comigo. É isso aqui que me ajuda a enfrentar meus problemas. É entrar aqui, doar o máximo de mim para ajudar esse clube. Tenho amizades aqui dentro, pessoas que me ajudam muito. Talvez seja no meu trabalho que consiga forças.
Foi esse carinho que te fez recusar algumas propostas de outros clubes, como a do Vitória-BA?
- Realmente já me consultaram com a possibilidade de sair, mas só sairei daqui caso o Náutico não me queira mais. Penso em fazer um trabalho onde se implante uma filosofia de jogo, que é algo que eu já falei no ano passado. Mas sabemos que futebol é resultado e, às vezes, isso não acontece. Então, algo que poderia ser muito bom pode não se tornar realidade. Enquanto as pessoas ficarem presas ao resultado e não a um planejamento, que pode levar um certo tempo para acontecer, isso tende a prejudicar e sempre quem sofre é o treinador.
Waldemar Lemos, técnico do Náutico (Foto: André Nery / Agência Náutico)Waldemar Lemos era muito querido pelos jogadores do Náutico (Foto: André Nery / Agência Náutico)
Se quando o Náutico estava ganhando, a torcida chegou a criticar o time, o que esperar agora que o time não vive um bom momento?
- Vivemos um momento complicado no ano passado e quando a torcida veio para o nosso lado, nós conseguimos vencer os obstáculos. Então, eu gostaria que essa torcida viesse para o nosso lado novamente e que lotasse esse estádio e mostrasse aos jogadores que eles estão juntos conosco. Não podemos criar a cultura do pânico. Quantos jogadores passaram aqui e não prestaram? O que acontece é que o atleta não sente confiança para jogar aqui por conta da impaciência. Então, o melhor caminho é os torcedores terem a certeza que existe um trabalho para fortalecer o Náutico e que eles fazem parte disso.

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