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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Alan se mostra triste com frieza de Pistorius e diz: ‘Quero seguir amigo’

Brasileiro e sul-africano não se falam antes da entrega de medalhas. Após cerimônia, apenas um rápido cumprimento e diálogo seco

Por Cahê Mota Londres
Alan Fonteles paralimpíadas pódio Oscar Pistorius (Foto: Reuters)Alan Fonteles abraça Oscar Pistorius no pódio
(Foto: Reuters)
Alan Fonteles sorri, grita, comemora. O paraense tem exata noção da grandeza do que realizou na noite de domingo. Ao desbancar Oscar Pistorius na final dos 200m rasos T44, ele não só calou e chocou os 80 mil torcedores presentes ao Estádio Olímpcio de Londres, como também entrou na história do movimento paralímpico. A alegria, no entanto, não está completa. Em alguns momentos, o campeão volta a ser fã e mostra desconforto pelas críticas que tem recebido do ídolo.
Publicamente, Pistorius tem colocado em dúvida os méritos de Alan Fonteles ao reclamar do aumento de cinco centímetros em suas próteses do Mundial da Nova Zelândia, no ano passado, para os Jogos de Londres. Nos bastidores, a postura do atleta paralímpico mais popular da história tem sido ainda mais decepcionante para o brasileiro. Desde a semifinal dos 200m rasos, quando Fonteles mostrou força ao bater o recorde mundial em sua eliminatória, o sul-africano tem tido comportamento frio com o adversário.
- Está uma situação desagradável. Ele passa por mim e não fala, só me deu um "oi". Estou vendo que ele está fechado. Cara, eu quero continuar minha amizade com o Pistorius. Não quero polêmica. Quero seguir amigo de todos. Não é por eu estar ou não grande... Repito, estou dentro das regras do IPC. Isso que importa. Essa polêmica é dele com não sei quem. Comigo não é – revelou Fonteles.
Na manhã desta segunda-feira, os dois se reencontraram na cerimônia de premiação da prova e não se falaram antes de subir no pódio. Lá, com o sul-africano visivelmente desconfortável, trocaram poucas palavras, com o contato partindo de Alan. Apesar de ter emitido uma nota oficial pedindo desculpas pela postura, Pistorius não buscou o perdão do brasileiro.
- Não. Ele ficou sozinho, falando no telefone por uns 40 minutos, com uma cara de choro, não sei se chorou ou não. Como eu disse ontem, quero seguir amigo dele. Não quero essa polêmica que estão tentando fazer. Pensei em falar com ele antes de entrarmos para o pódio, mas vi que era melhor esperar. Lá eu o abracei e disse: "Parabéns, meu amigo". Ele respondeu: "Obrigado" - contou Alan, muito assediado pela imprensa nesta segunda.
O tratamento seco de Pistorius até certo ponto contradiz o comunicado divulgado por ele na manhã desta segunda. Em suas palavras, manteve a opinião sobre as próteses, mas se desculpou pelos comentários em momento inoportuno e disse respeitar Alan.
- Eu nunca iria diminuir um outro atleta após um triunfo. Quero pedir desculpas pelo momento dos meus comentários. Realmente acho que há controvérsias que devem ser discutidas, mas concordo que questioná-las logo após a prova foi errado. Era o momento do Alan e eu quero deixar claro meu respeito por ele. Tenho orgulho de ser paralímpico e acredito na justiça do esporte. Sou feliz por trabalhar junto com o IPC, que também busca os mesmos objetivos.
Alan e Pistorius se cumprimentam após vitória do brasileiro (Foto: Getty Images)Alan e Pistorius se cumprimentam após vitória do brasileiro nos 200m rasos T44 (Foto: Getty Images)
Ainda na pista do Estádio Olímpico, Pistorius deixou clara a frustração ao cruzar a linha de chegada em segundo e cumprimentou timidamente o brasileiro. Todo clima pesado passa a ser ainda mais estranho diante do fato de que o próprio sul-africano admite que o rival não burla nenhuma regra do comitê internacional com os novos acessórios. Alan, por sua vez, tem tentado colocar panos quentes na situação:
- O Pistorius conhece as regras. Ele mesmo já falou isso. Deixei para mostrar nas pistas. Não quero polêmica, não quero briga... Só entrei para história do movimento paralímpico. Isso é o que importa.
 E seguir deixando sua marca no segmento é a única pretensão de Alan. Pelo menos até o momento. Apesar de Pistorius sempre ter sido uma inspiração para o brasileiro, ele não pensa em repetir o sul-africano e se aventurar no esporte convencional nos Jogos do Rio.
- Primeiro, quero fazer mais história ainda em Londres. Tenho as provas dos 100m, 400m e 4 x 100m. Quero fazer história também em 2016, na minha casa, com todos os brasileiros. Aí então vamos pensar.
Antes disso, o brasileiro volta a encontrar Pistorius em mais três oportunidades em Londres. Os dois também dividirão as raias do Estádio Olímpico nos 100m e 400m T44 e no revezamento 4x100m T42/T46. Resta saber se com a amizade já refeita ou não.

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