Em entrevista descontraída, presidente do UFC se diz empolgado com o TUF Brasil, revela cunho social da marca e não poupa os erros dos juízes
Dana
White ressalta o aspecto social do UFC e diz sentir tristeza ao ter de
dizer aos grandes lutadores, como Chuck Liddell, que seu tempo como
atletas no octógono acabou (Foto: Amanda Kestelman / SporTV.com)
- Quando chega a hora é complicado. Eles são heróis para milhões de
pessoas no mundo. É difícil aposentar um grande ídolo – revelou o
chefão, que citou o americano Chuck Liddell como exemplo de
envolvimento na hora do adeus ao octógono.A cada vez que vem ao país, Dana demonstra estar mais empolgado com o crescimento avassalador de sua marca no Brasil. Ele acredita que o viés social tem de ser uma bandeira levantada pelo Ultimate, que pretende servir de inspiração para crianças carentes.
- Queremos que crianças pobres do Brasil também se inspirem no MMA, não apenas no futebol. Já temos histórias de campeões como Júnior Cigano e José Aldo que tiveram caminhos assim – confessou.
No momento, porém, sua maior prioridade é o Ultimate Fighter Brasil – Em busca de campeões, que estreia no dia 25 na TV Globo. Mesmo assim, entre sorrisos e decisões dolorosas, o comandante principal da marca que mais cresce no mundo não esquece o lado turrão por muito tempo. E se tem algo que no momento tira Dana do sério são os crescentes número de erros nas decisões dos juízes.
- Eu estou torcendo para que os lutadores que estão se aposentado possam se envolver mais no esporte como juízes ou jurados. Meu grande exemplo é o Steve Mazzagatti. Ele não sabe absolutamente nada. Ele fica olhando os atletas levando socos no rosto cinco, seis vezes. Não sei o que esse cara está pensando ao não fazer nada. Talvez na roupa que ele deseja comprar ou usar depois da luta...
Confira abaixo a entrevista completa do presidente do UFC:
Dana White posa com os técnicos do TUF Brasil Vitor
Belfort e Wanderlei Silva (Foto: Reprodução/Twitter)
Qual é a sua impressão do Ultimate Fighter Brasil?Belfort e Wanderlei Silva (Foto: Reprodução/Twitter)
Quando começamos o show, os lutadores não tinham que lutar para entrar na casa. Agora precisam. Isso faz muita diferença. A gente sabe que caras pertencem ao lugar e quais não. Estou muito impressionado com o que vi aqui no Brasil. São caras muito bons que não querem nem pensar em perder essa chane. Estão ali para lutar em alto nível e vai ser muito empolgante de assistir. Além do programa estar muito bem feito.
O Brasil é um país com muita desigualdade social. Você acha que o Ultimate Fighter tem um cunho mais social por aqui?
Nos Estados Unidos pegamos caras que vem da pobreza também. Mas o que estou vendo são lutadores entendendo que o UFC é uma excelente oportunidade e levando isso muito a sério. Existem casos em que os participantes ficavam se divertindo, mas aqui eles estão pegando isso como uma forma de mudar a vida. O TUF é em todo o mundo. O Big Brother Brasil é um grande reality show aqui do Brasil, mas só passa aqui no país. O TUF Brasil será assistido por todo o mundo, por fãs do MMA que querem ver o show e saber quem vai ganhar. Não é só no país, é no mundo.
A questão social é uma preocupação do UFC nesta forte expansão no Brasil?
Normalmente quando vamos para uma cidade nova ou um país novo, o esporte explode após os shows. Academias começam a aparecer e as pessoas começam a treinar MMA. Aqui no Brasil é assim. Já começamos a trabalhar aqui distribuindo luvas e roupas de treinamentos para quem não pode pagar. Em alguns anos, você vai ver muita gente sonhando nas áreas mais pobres. Antes, todos queriam se tornar jogadores de futebol. Agora existe o MMA. E essas crianças podem conseguir sair dessas áreas pobres e conquistar muita coisa. Temos histórias como as de Cigano e José Aldo. Acho que vai aumentar muito nos próximos anos. E o TUF é muito grande, pode ser uma porta de entrada. O TUF pega 16 caras que ninguém conhece e rapidamente eles se tornam estrelas.
Já pensa em uma segunda edição para o TUF Brasil?
Vamos ver como vai ser a primeira. Todos os lugares em que levamos o TUF deu muito certo. Estou bem animado, está bem feito. Os brasileiros vão amar. Até os que acham que não vão gostar vão amar.
Já pensa em novos treinadores? Anderson Silva pode ser um futuramente?
Todos podem ser. O Brasil tem os melhores lutadores peso por peso do mundo. Anderson Silva é o melhor de todos os tempos. O que procuramos em treinadores são caras que tem muito a oferecer para os novos talentos. Obviamente, Vitor e Wanderlei já lutaram em todos os lugares do planeta contra todo mundo. Eles são grandes treinadores. Se der certo no Brasil, é infinito o número de caras que podem ser treinadores do reality show.
Você é conhecido como chefão, pulso firme que coloca ordem no maior evento de MMA do mundo e fala o que pensa. O Dana White também tem um lado doce?
Doce? Fiquei sem resposta. Sim, eu sou um cara doce também, amigável quando dá para ser. Tem horas que tenho relações boas com lutadores, conversamos, nos divertimos. Mas quando é hora de trabalhar, nunca vou ser o bonzinho ou o cara legal. Eu tenho que falar o que eles precisam fazer, e muitas vezes ser duro. Faz parte do meu trabalho.
O veterano Chuck Lidell teve de ser demitido como
atleta, e hoje é executivo do UFC (Foto: Getty Images)
Demitir um lutador é difícil? No último UFC Rio você foi
duro ao demitir Anthony Johnson (que ultrapassou muito o limite de peso
para a luta contra Belfort) na coletiva após o evento...atleta, e hoje é executivo do UFC (Foto: Getty Images)
É difícil para mim em alguns casos complicados. Tenho um bom exemplo para isso: Chuck Liddel. É complicando quando eu vejo e sei que é hora de um lutador se aposentar. Chuck é um grande amigo meu e nós literalmente começamos juntos nesse esporte. O dia que tive de falar para ele sair do octógono foi muito difícil para mim, mas também estava feliz porque sabia que era a coisa certa a ser feita. Não queria vê-lo lutando mais daquele jeito. Mas existem casos que não lamento. Como Anthony Johnson. Não me senti nem um pouco mal por ele. Foi uma grande falta de profissionalismo. Ele sabia o que tinha de fazer. É igual a todos os trabalhos. Se você não escreve matérias é demitida, certo? Mas quando chega a hora é complicado. Eles são heróis para milhões de pessoas no mundo. É difícil aposentar um grande ídolo.
O que faz você perceber que está na hora de um lutador se aposentar?
Chuck é o melhor exemplo. Ele tinha um queixo de aço e ninguém conseguia o nocautear. No fim, ele já estava sendo nocauteado. No boxe, os caras ficam muito velhos lutando e é nesse momento que eles se machucam, começam a ter problemas mais graves. Esse é um esporte para homens novos e não importa o tamanho da estrela que você foi. Se não dá para competir em um bom nível, é hora de ir embora. E a diferença do boxe para o UFC é que aqui sou eu quem toma essa decisão. Os boxeadores que decidem quando vão sair o ringue. Não tenho problema algum em dizer, eu decido no UFC.
Já se envolveu com dramas de seus lutadores?
Cuidamos muito dos nossos atletas. Quando o Minotauro machucou o braço em dezembro, na luta contra o Frank Mir, ele voou comigo até a Califórnia para fazer a cirurgia. Eu mesmo tratei disso. Quando foi hora de dizer para o Chuck parar, eu disse e estive ao lado dele. Lesnar teve seu problema de saúde em 2009 e nós o colocamos no melhor hospital para receber o melhor tratamento.
Você tem três filhos. Como é o seu lado pai?
Tenho dois meninos, um de nove e outro de dez anos, e uma menina de apenas cinco. Não quero que eles sejam lutadores (risos). Brincadeira. Eles podem fazer o que quiserem. Meus garotos treinam desde os três anos. Eles começaram no boxe, e hoje fazem muay thai e wrestling. Só vou deixar eles fazerem jiu-jítsu quando chegarem no ensino médio porque eles têm idades próximas e eu já sou um juiz dentro de casa. A menina prefere ser cheerleader mesmo.
Steve Mazzagatti é o árbitro mais criticado por Dana
White: 'Ele não sabe nada!' (Foto: Getty Images)
Você vem reclamando muito dos juízes das lutas, que são escolhidos pelas comissões atléticas. Como isso funciona?White: 'Ele não sabe nada!' (Foto: Getty Images)
Sempre vão haver erros nos esportes profissionais. Mas no MMA está terrível. Eu estou torcendo para que os lutadores que estão se aposentado possam se envolver mais no esporte como juízes ou jurados. Meu grande exemplo é o Steve Mazzagatti. Ele não sabe absolutamente nada. Ele fica olhando os atletas levando socos no rosto cinco, seis vezes. Não sei o que esse cara está pensando ao não fazer nada. Talvez na roupa que ele deseja comprar ou usar depois da luta. Mas ele é terrível. As comissões pegam esses caras. Nós apenas seguimos as normas. Eles são escolhidos por Nevada, Califórnia. É assim que funciona.
O que você mudaria hoje?
Eu quero o replay instantâneo, como fazem no futebol americano. Veja o caso do Jon Jones: ele tem um derrota na carreira, mas não perdeu. Ele destruiu o cara que estava lutando, mas Mazzagatti era o juiz ali e foi um erro. O que sempre digo sobre esse esporte: é o mais seguro do mundo se for feito da forma certa. Você pega dois atletas saudáveis e lhes dá a atenção médica, antes, durante e depois da luta. Assim funciona. Em quase 20 anos nunca ninguém teve nada muito grave. Diferentemente do boxe. A maioria dos problemas de saúde sérios que acontecem é de lesões que já existiam antes do combate. Eles não fazem os testes médicos antes porque é caro. Exames no cérebro são caros, mas nós fazemos. Eles não gastam o dinheiro que deveriam.
Maurício Shogun já declarou que quer estar no card do Brasil. Está nos planos do Ultimate colocá-lo na grande final do TUF, que também terá a revanche entre Anderson Silva e Sonnen?
Estamos trabalhando em algo para o Shogun agora. Vamos ver o que acontece. Eu duvido muito que ele vá estar neste card, porque já está muito cheio. Mas vamos fazer e voltar ao Brasil muito em breve.
Como está o futuro de Lyoto e Minotauro. Eles estão em uma espécie de geladeira por enquanto?
Geladeira (risos)? Eles não estão na geladeira nem foram colocados para escanteio. São um dos melhores pesos-pesados e um dos melhores meio-pesados do mundo. Eles dois sempre fazem lutas interessantes. Vão lutar em breve, mas não temos nomes nem lugar.
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